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As Três Melodias de Le Corbusier no Cinema

Postado por Arquitetura e cinema em segunda, abril 22, 2019

 

Em 1948 o Dr. Pedro Domingo Curutchet havia adquirido em La Plata, cidade que se encontra a 60 km de Buenos Aires, um terreno em forma retangular de 9 metros de largura por 24 metros de profundidade, o número 320 do Boulevard 53. Sua situação urbana era singular e privilegiada: frente a um grande espaço verde conformado por uma pequena praça triangular, a  praça  Rivadavia na arborizada   Avenida  1  e  o  “Paseo del Bosque”, principal parque público da cidade. 


É uma obra reconhecida internacionalmente, já que é a única projetada e construída em toda America do Sul. Esta seria sua única obra construída na América Latina junto com o “Carpenter Center for the Visual Arts” da Universidade de Harvard  (Cambridge,  Massachussets;  1963),  uma  das  duas  materializadas  neste continente. Le Corbusier conhecia a Argentina, principalmente a cidade de La Plata, mas nunca viajou ao país durante a execução da obra. O projeto se destaca porque nele podemos ver notadamente refletidos todos os princípios fundamentais da arquitetura moderna que propunha este arquiteto.


Na Casa Curutchet, Le Corbusier resume o processo compositivo da fachada principal aplicando o enfoque pictórico purista. O projeto é um equilibrado jogo de signos aplicados no espaço. Separa em planos os componentes que historicamente formaram parte da unidade do ”muro”: a estrutura, a vedação e a proteção solar. Desta forma, cada parte se converte em uma camada independente, superpostas em um exercício de transparência que diferencia o primeiro plano, o meio e o fundo. O brise- soleil, o plano de vedações e a trama de pilotis constituem as três camadas da composição que Le Corbusier denominou “três melodias”.

Habitada pelos Curutchet entre 1953 e 1962, a casa esteve praticamente abandonada até 1987, quando se realizou a primeira restauração. A segunda, realizada em 1992, permitiu transformá-la em um pequeno museu, hoje em dia aos cuidados do Colegio de Arquitectos de la Provincia de Buenos Aires, e também sua atual sede.


No século XXI o projeto de Le Corbusier retorna em um filme praticamente todo realizado em nada mais nada menos que na própria Casa Curutchet, em La Plata (Argentina). No filme “El Hombre de al Lado” ( 2009) com direção de Gastón Duprat e Mariano Cohn, a casa torna-se a protagonista desta história que se desenvolve a partir de um desentendimento entre vizinhos, mas quando aplicado a um contexto com um fundo histórico como a Casa Curutchet, toma uma dimensão muito dramática.O filme de Mariano Cohn e Gastón Duprat faz por vias tortas uma homenagem ao design cerebral do mestre do modernismo.


Um argumento aparentemente simples, que provocará um jogo de olhares sobre as relações sociais e a realidade atual. Uma marreta sobre a parede quebra o silêncio dos créditos iniciais e divide a tela. De um lado, a causa e de outro, a consequência. Este incipiente evento dará começo ao filme. Começa no vizinho uma reforma. Pedreiros abrem na parede, que dá vista para a sala de Leonardo, um rombo. O recém-chegado Victor (Daniel Aráoz) quer uma janela para aproveitar os raios de sol, mas Leonardo surta, acha a janela uma invasão de privacidade. O processo começa alterando a harmonia arquitetônica de sua casa, que não é uma ”simples” residência  mas  nada menos que a famosa Casa Curutchet. A casa não somente é o cenário da ação como também uma protagonista na narrativa. A câmera acompanha Leonardo nos percursos e as suas imensas possibilidade do olhar que Le Corbusier propõe no seu projeto.

A cena final, maravilhosamente bem executada, do filme “El Hombre de al Lado” é reveladora quando nos mostra os dois personagens principais, num final dramático e inesperado, juntos a Le Corbusier representado pela promenade architecturale, exemplificada pela rampa da Casa Curutchet.


Tags: as três melodias de le corbusier no cinema 

Arquitetura e Cinema


Paulo Leônidas é arquiteto (Ufrgs)/ Warsaw University/ Architectural Association AA Especialista em Arquitetura Habitacional (Propar/Ufrgs) Mestrado Arquitetura (Propar/Ufrgs) Atuou até 1993 como professor na Escola de Arquitetura (Ufrgs). Pesquisador do tema “Cinema como Arqueologia da Arquitetura”. A partir de 1994 inicia na área do cinema, Diretor de arte, cenógrafo de grandes redes de televisão e Diretor de cena, roteirista de longas e curtas metragens, documentários e também séries para tv, atividade que desempenha até o momento. Em 2015 lança, em parceria com o historiador Carlos Pereira, o romance histórico: “1844: Romeu e Julieta”. Realiza diversas curadorias de exposições e publica diversas críticas, tais com artigos e ensaios, sobre a Arquitetura e o Cinema.

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