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“Gattaca” e a Arquitetura Moderna Por Paulo Leônidas

Postado por Arquitetura e Cinema em sexta, maio 10, 2019


O filme “Gattaca” (1997), escrito e dirigido por Andrew Niccol, se passa em um futuro onde a condição humana já está definida no DNA de cada um,  e  portanto, oportunidades para o desenvolvimento humano já estão pré-estabelecidas. Além da questão ética interessante, a arquitetura onde a história ocorre é cuidadosamente selecionada a fim de se ajustar na imagem do diretor sobre o futuro. Locações incluem o Marin County Civic Center, de Frank Lloyd Wright e a CLA Building, de Antoine Predock.  A trilha sonora é um dos pontos altos do filme pois  nela constam nomes como Django Reinhardt, Jacques Larue, Charlie Haden e Stan Getz.

Vincent Freeman (Ethan Hawke) sempre fantasiou sobre viagens ao espaço, mas é impedido devido ao seu status como geneticamente inferior, “não-válido”. Decide lutar contra o seu destino através da compra de genes de Jerome Morrow (Jude Law) em um laboratório de engenharia, para indivíduos “válidos”. Assume, então, o DNA de Jerome e entra para o Programa Espacial Gattaca, onde se apaixona por Irene (Uma Thurman). Entretanto uma investigação sobre a morte de um oficial do programa (Gore Vidal) atrapalha os planos de Vincent.


Niccol retrata uma sociedade futurista estéril e frígida que é impulsionada pela eugenia. Uma sociedade na qual as crianças nascem por meio de manipulação genética para garantir que possuam as melhores características hereditárias. O destino de um indivíduo é determinado por suas características. É um momento no futuro em que a discriminação baseada em gênero, religião ou raça deixa de existir. É substituído pela discriminação genética. O filme é focado em Vincent, que nasceu fora do programa de eugenia e luta para superar a discriminação genética para alcançar seu sonho de viajar pelo espaço.


O mundo perfeccionista sintético de “Gattaca” é fabricado para retratar uma sensação de um ambiente moderno e futurista cercado por engenharia de alta tecnologia. Ao mostrar este mundo, os cenários usam uma arquitetura minimalista que mostra que a raça humana está mais focada em avanços tecnológicos do que em criar estruturas complexas. Tudo no filme é limpo, afiado, aspirando ao perfeccionismo. Na busca de uma sociedade ideal, Niccol se livra da imperfeição que torna as pessoas humanas. Como reflexo deste tema, os edifícios escolhidos também têm uma imagem minimalista e de alta tecnologia, com uma sensação de frieza. Isso é visto nos sistemas de geração de energia solar e no vertedouro da barragem de Sepulveda, na Califórnia, e na arquitetura brutalista da Universidade Politécnica do Estado da Califórnia, em Pomona.

O apartamento de Jermon foi filmado na Universidade de Pomona, o apartamento é um exemplo de estilo modernista. O teto alto do interior nos diz que a pessoa que mora lá é rica e tem bom gosto. A característica simbólica neste espaço é a escadaria. Várias cenas estão sendo tiradas na frente. O formato espiral das escadas representa o modelo de dupla hélice do DNA. É um tema chave do filme, pois representa as bases da sociedade. Também representa o paralelo entre Vincent e Jerome. No final do filme, Vincent é filmado no topo da escada, enquanto Jerome está no fundo. Nos mostrando que eles trocaram de papel. Eles se tornaram a versão anterior do outro. Além disso, as escadas representam o impulso e a determinação humana. Isso é mostrado quando Jerome teve que se esforçar para subir as escadas desde que ele está paralisado da cintura para baixo. Esta é a primeira vez que Jerome se esforça para conseguir alguma coisa.

Um dos edifícios emblemáticos de “Gattaca” é o edifício Frank Lloyd Wrights, chamado Marin County Civic Center. Foi o último edifício construído por Wright antes de morrer em 1959, com seu projeto quase que inteiramente desenvolvido. Wright foi selecionado para o projeto em 1957, ganhando um voto de esperança de que ele seria capaz de representar melhor um governo democrático aberto ao povo através do Centro Cívico.

     Uma das qualidades mais notáveis do projeto é que Wright não parou na arquitetura - ele projetou a porta, os letreiros, a mobília e todos os detalhes.  Em “Gattaca”,  o centro se parece com um navio alienígena que misteriosamente pousou na encosta da Califórnia. Suas linhas simples e limpas transmitem apenas a impressão buscada no filme - um futuro onde tudo é ordenado, estéril e bem planejado.


Os produtores, até a década de 90, tendiam a usar construções de arquitetura reais, mesmo que seus filmes que estavam sendo filmados estivessem ocorrendo no futuro. A ficção científica se baseia em apresentar o mundo de uma maneira que seja crível para o público. Antes dos atuais avanços disponíveis em efeitos visuais, os cenógrafos precisavam escolher entre construir espaços ou encontrar um espaço existente para filmar. Construir cenários é caro e é limitante em termos de tamanho. Portanto, em alguns casos, os designers de set inclinam-se para utilizar arquiteturas emocionantes, “Gattaca” é um belo exemplo disso.



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Arquitetura e Cinema


Paulo Leônidas é arquiteto (Ufrgs)/ Warsaw University/ Architectural Association AA Especialista em Arquitetura Habitacional (Propar/Ufrgs) Mestrado Arquitetura (Propar/Ufrgs) Atuou até 1993 como professor na Escola de Arquitetura (Ufrgs). Pesquisador do tema “Cinema como Arqueologia da Arquitetura”. A partir de 1994 inicia na área do cinema, Diretor de arte, cenógrafo de grandes redes de televisão e Diretor de cena, roteirista de longas e curtas metragens, documentários e também séries para tv, atividade que desempenha até o momento. Em 2015 lança, em parceria com o historiador Carlos Pereira, o romance histórico: “1844: Romeu e Julieta”. Realiza diversas curadorias de exposições e publica diversas críticas, tais com artigos e ensaios, sobre a Arquitetura e o Cinema.

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