Corpo, mente e movimento: o que estamos esquecendo sobre nossa própria natureza?
Postado por Coluna Dança em segunda, novembro 17, 2025
Corpo, mente e movimento: o que estamos esquecendo sobre nossa própria natureza?
Será que o nosso pensamento tem conexão com o nosso movimento? A pergunta parece simples, mas abre portas para uma reflexão profunda: qual é o papel de um corpo que se move de forma complexa, inteligente e integrada na construção de nossas emoções, do nosso pensamento e da nossa saúde?
Ao longo da vida, talvez tenhamos esquecido que somos constituídos por um sistema vivo e interdependente — corpo, mente, emoções e espírito — que se formam e se influenciam mutuamente. É justamente nesse ponto que a educação somática ganha relevância: educar o corpo é educar o ser humano por inteiro.
Idealmente, desde o nascimento deveríamos ter liberdade para aprender com o ambiente, com outros corpos, com objetos, com os elementos da natureza. A educação não deveria ser o afastamento do risco, mas sim a aprendizagem sobre ele. No entanto, o que observamos hoje é o oposto: corpos limitados, confinados e empobrecidos na sua capacidade de compreender o mundo. Uma infância cada vez mais entre paredes e telas produz corpos silenciados, amortecidos, oprimidos — e isso tem consequências profundas.
Nascemos com corpos potentes. É através deles que começamos a interagir com o ambiente; somos usinas energéticas, vibrantes, pulsantes. Nosso corpo físico dá materialidade a todos os nossos outros corpos — emocional, mental, espiritual. E fomos feitos para o movimento. Para experimentar, criar, ousar, aprender.
Mas, ao longo do caminho, fomos domesticando esses corpos. Proibimos que corram, pulem, gritem, dancem, caiam e se levantem. Ao amortecer o movimento, amortecemos a própria vida. É como tentar conter, indefinidamente, a força de uma natureza que pulsa para existir.
O resultado é visível: um número crescente de crianças e jovens que não encontram espaço para a energia que carregam. Energia que, impedida de se expressar, não desaparece — ela se acumula. E quando finalmente rompe a contenção, vem de forma explosiva, desorganizada, desequilibrada. Não se trata de “comportamentos inadequados”, mas de potências que não encontraram via de expressão.
É impossível conduzir uma força reprimida durante tempo demais. Assim como uma represa que começa a rachar, um corpo contido demais está sempre sob risco de colapso. E é isso que vemos: crianças, jovens e adultos sobrecarregados, ansiosos, desconectados de si mesmos.
Mesmo os corpos que se exercitam nas academias vivem, muitas vezes, um paradoxo: movem-se, mas não se expressam. Corpos guiados por máquinas, distraídos por telas, dissociados de emoções e pensamentos. Corpos que se movem sem se perceber. E um corpo desconectado de sua experiência integral não pode cumprir sua função mais essencial: expressar a vida.
Expressamos nosso ser através da postura, do olhar, da respiração, da voz, do movimento. Mas isso só é possível quando deixamos de separar corpo, mente, emoção e espiritualidade — quando compreendemos que tudo isso é uma unidade.
Refletir sobre a educação corporal — a nossa e a das próximas gerações — é urgente. Precisamos de práticas que devolvam ao corpo sua centralidade, que permitam que crianças e adultos existam plenamente no espaço, que recuperem sua relação com o ambiente e consigo mesmos.
Uma sociedade que invisibiliza os corpos, que os limita, que os dissocia, é uma sociedade que se aproxima do colapso. E estamos vendo esse colapso acontecer.
Talvez seja hora de olhar para o corpo não como uma máquina a ser controlada, mas como um território de vida, expressão e inteligência. Um território que, quando reconhecido e integrado, pode reacender aquilo que estamos perdendo: nossa própria humanidade.
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