English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Arabic Chinese Simplified 

O Corpo em Movimento: Complexidade, Consciência e Cuidado

Postado por Coluna Dança em segunda, outubro 20, 2025

Minha área de atuação se encontra na transversalidade entre dança, saúde, bem-estar, autoconhecimento e sustentabilidade. A base dos meus estudos está na compreensão do corpo e do movimento como vias de aprimoramento do ser humano — caminhos pelos quais desenvolvemos presença, percepção e complexidade.

Atualmente, desenvolvo uma pesquisa de doutorado que investiga a potência do tempo no desenvolvimento de tecnologias do corpo e do movimento. Trata-se de um estudo sobre como o tempo vivido, as experiências corporais e o cultivo da atenção podem gerar formas mais sustentáveis de existir e dançar — modos de viver que valorizam a permanência, a escuta e o cuidado.

Mas você já parou para pensar que a experiência no corpo pode revelar histórias, marcas e memórias profundas? Já pensou que o movimento pode ser uma forma de educação — talvez a mais alta educação —, capaz de expandir nossas maneiras de sentir e pensar? Ou ainda, que o movimento nos acompanha desde a fecundação até os últimos instantes de vida?

Essas perguntas nos convidam a refletir sobre algo essencial: as práticas de movimento às quais dedicamos o nosso tempo. Assim como o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento corporal também se dá num percurso do simples ao complexo. No entanto, na vida contemporânea, observamos o movimento inverso — uma perda gradual da complexidade motora à medida que nos afastamos da infância.

Hoje, até mesmo as crianças têm suas experiências motoras restringidas por ambientes fechados e rotinas limitadas. Há menos chão, menos terra, menos liberdade para correr, pular, rolar, subir em árvores, descer ladeiras em carrinhos ou andar de patins. São experiências fundamentais, que cultivam inteligência corporal, imaginação motora e autonomia física.

Se antes passávamos de uma infância rica em movimento para uma vida adulta de menor complexidade motora, hoje muitas crianças já nascem privadas dessa experiência, imersas em telas e espaços que pouco favorecem o corpo em ação. Como consequência, tanto as gerações que envelhecem quanto as que chegam perdem contato com o sentir em movimento — essa sabedoria silenciosa que habita o corpo.

É preciso, portanto, revisitar a importância das atividades físicas e corporais que escolhemos. Práticas como a musculação, por exemplo, podem ser extremamente benéficas quando integradas a movimentos mais amplos e complexos. No entanto, quando se tornam a única forma de exercício, tendem a reduzir a diversidade motora e a desconectar o corpo das exigências da vida cotidiana.

Envelhecer com qualidade requer saber rolar, agachar, engatinhar, subir, descer, apoiar-se, equilibrar e desequilibrar-se. São gestos simples, mas vitais — respostas físicas que garantem autonomia e saúde em todas as idades. Do mesmo modo, na infância, longos períodos sentados em carteiras escolares limitam o desenvolvimento motor e empobrecem a relação com o próprio corpo.

Não se trata de negar o valor da concentração ou da força, mas de questionar o desequilíbrio entre movimento e imobilidade. Para poder sentar e aquietar, é preciso antes mover-se, gastar e reciclar a energia que habita o corpo — essa energia que é da sua própria natureza. A força, para ser significativa, precisa ser vivida em movimento.

Como, então, gerir essa energia pulsante? Como canalizar a força adquirida em práticas de academia para os movimentos complexos e espontâneos da vida real? Como ensinar às crianças o equilíbrio entre foco e liberdade corporal?

Essas perguntas abrem um campo fértil de reflexão sobre o corpo, o movimento e as escolhas que fazemos no modo como nos relacionamos com eles. Se compreendemos que somos sistemas vivos, talvez seja hora de reconhecer o corpo também como via de conhecimento do mundo — e o movimento, como linguagem que constrói lógicas, afetos e experiências.

Pensar o corpo em movimento é pensar a vida em sua plenitude.
É pensar como dançamos o tempo que temos.


Tags: o corpo em movimento: complexidade  consciência e cuidado thais petzhold ello digital brasil 

A arte da dança


Artista, profissional da saúde, mãe do Yuri, do Athos e da Aylla Morena, professora e dona de casa. Dançarina, performer da cena, pesquisadora, professora de consciência e expressão corporal, alongamento, fluxo de movimento e dança, terapeuta reikiana e mobilização somática, gestora cultural, parecerista da área da cultura, graduada em Educação Física pela UFRGS, mestre e doutoranda em artes cênicas no PPGAC-UFRGS. Atua na cena cultural desde 1990. Tem sua formação baseada na dança clássica, moderna, contemporânea e vasta experiência em outros estilos de dança, artes marciais, ioga, educação somática e esportes, além de linguagem e interpretação teatral. Desenvolve sua pesquisa em dança, performance e corpo cênico habitando a interface com outras artes e artistas, elementos da natureza, arquitetura, cotidiano, espiritualidade, ciência e filosofia.

Categorias

Arquivo do blog