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ECO GRANDE DO SUL TURISMO

Postado por Hotelaria Luis Alonso em quarta, julho 20, 2011

ECO GRANDE DO SUL TURISMO

A indústria do lazer no Brasil encontra-se em grande ascensão, sendo reflexo das modificações que estão ocorrendo no mundo, onde os grandes centros capitais vivem uma situação difícil, devido a grandes turbulências e crises econômico-sociais, gerando conflitos e instabilidade em quase todas as nações. Diante dessa conjuntura mundial, o Brasil com seu imenso potencial turístico poderá melhorar as condições de vida de sua população, por meio dessa nova alternativa econômica, bem como proporcionando aos turistas outras opções diferenciadas das já existentes.

O turismo ecológico surge como um grande segmento a ser trabalhado, haja vista ser uma tendência moderna e vantajosa. Além de possibilitar uma fuga dos grandes centros urbanos, o ecoturismo no Brasil pode ser desenvolvido como uma atividade de turismo de oferta infinita para os planos de desenvolvimentos dos municípios, tornando-os sustentável se houver investimento de uma forma organizada, objetiva e consciente, aproveitando o potencial natural disponível.

O Ecoturismo é definido pela EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) como: "o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”.

O Rio Grande do Sul começou a sua colonização por volta do ano de 1700, bem mais tarde que os outros estados litorâneos brasileiros, atrasando o seu desenvolvimento, que ocorreu somente com a chegada de imigrantes alemães, açorianos, italianos, franceses, espanhóis, turcos, poloneses e etc... O Estado possui diversas regiões, com um grande litoral, com a maior praia do mundo denominada Cassino; grandes rios navegáveis, porém não aproveitados; as missões jesuíticas, um pólo ainda não devidamente valorizado; o pampa gaúcho com toda a tradição do gaúcho e as grandes fazendas, a região vinícola e suas grandes safras, o planalto central rico em formações paleontológicas, aliás, pouco exploradas, com restos de florestas petrificadas e fósseis animais. Possui também desde cidades industriais a cidades rurais, cidades do início do século a grandes metrópoles e cidades com as mais variadas culturas de imigrações. Todos esses traços caracterizam a cultura, imensamente diversificada, as diferentes ideologias e os diversos recursos naturais do Estado.

O Rio Grande do Sul nunca foi um Estado onde se valorizou o turismo do lazer, com exceção de escassas iniciativas locais (a região serrana e a Cidade de Torres com suas falácias) que priorizaram esse turismo, sendo que possui um potencial enorme a ser desenvolvido nesta área. Em face disso surge a seguinte indagação: Porque não desenvolver e investir neste potencial inexplorado? As respostas podem ser muitas, como:

Ø O potencial do Estado é outro, diferente do turismo de lazer, sendo mais atrativo investir no turismo de eventos, onde Porto Alegre foi em 2008 a terceira cidade do país neste segmento de turismo, e a cidade em questão, nos últimos anos quase triplicou o seu número de leitos hoteleiros, hoje já está em 5º lugar na captação de eventos;

Ø A captação e a distribuição dos recursos em nível de governo federal para áreas no país onde não existe uma agricultura/pecuária desenvolvida ou pólo industrial é muito enfraquecido, dando prioridade ao turismo como forma de desenvolver estas regiões mais pobres;

Ø O pouco diferencial que o Estado poderia apresentar, sem muitos investimentos iniciais para atrair o turista em potencial, afugentando o empreendedor para outras regiões;

Ø A pouca tradição do povo gaúcho no segmento de mercado do Ecoturismo, que configura uma nova realidade de prestação de serviço, ao qual culturalmente não estava preparado.

As oportunidades para desenvolver o turismo ecológico deveriam ser melhores aproveitadas. Pode-se mencionar a ocasião da visita do nosso Presidente da República Fernando Henrique Cardoso ao Papa João Paulo ll, em que, mesmo estando em precárias condições de saúde, o Papa ao ver o Presidente brasileiro disse “O Papa é gaúcho”. O presidente falou “o papa é brasileiro”, no qual o octagenário para retruca “O papa é gaucho”. Saliente-se que nenhum trabalho de divulgação ou marketing houve, sendo ele um ícone no mundo inteiro.

Paul McCartney em 2010 durante um show também repetiu a mesma frase e novamente deixamos passar o cavalo encilhado. Para pensar sobre esta cultura gaucha, vale pensar que num grande evento musical no inicio do ano, uma grande cantora do axé musica, durante seu show, falou que ia transformar tudo ali, como se fosse à Bahia... e qual a reação do público de jovens presente? Cantar o hino rio-grandense, interrompendo o show da cantora baiana.

Cultura fator essencial, novamente esquecido por um artista.

Pode-se observar também o pólo ecoturístico da serra gaúcha (Gramado/Canela até os Parques Nacionais de Aparados da Serra), que consegue atrair o turista, sendo a única região diferenciada do Estado, pois conta com infra-estrutura hoteleira, com hotéis e pousadas dos mais variados tipos, e com um atendimento de excelência, mesmo nos locais mais simples. A sinalização dos pontos turísticos em Gramado e Canela é boa, porém nas demais localidades a sinalização para os atrativos é ainda ineficiente. Poderia-se perguntar o que essas cidades têm de atrativo natural para o ecoturismo? Uma das mais lindas cascatas? Uma linda região cheia de hortênsias? Com certeza seria simplório se fosse apenas isso, pois o Estado do Rio Grande do Sul nessa mesma proporção apresenta diversas áreas tão ou mais belas que a região referida.

Então, qual a razão desse diferencial? Porque na região mencionada houve uma grande preocupação dos empreendedores de preparar, divulgar, qualificar, conservar e trabalhar para o ecoturismo tornar-se uma realidade sustentável para toda a região. A famosa “Cascata do Caracol” é apenas o carro chefe de todas as suas atrações turísticas. Além disso, preservam seus parques e florestas com os cuidados ambientais necessários para a sua utilidade e construindo novos atrativos. Qualificam e conscientizam sua população de forma a atender as necessidades do turista e desenvolvem a atraente e espetacular culinária.

Ainda, os empreendedores contam com a universidade para a conscientização do turismo; recuperando e cuidando da arquitetura da região, investindo nas suas potencialidades de forma cuidadosa sem alterar o cotidiano do local; trabalham o marketing de forma a mostrar o glamour de se hospedar na cidade, mesmo que a neve apareça, somente uma vez por ano; incentivam o comércio local, pelo seu artesanato e malharias; preservam sua identidade e virtudes e, acima de tudo, conscientizam a todos da importância do turismo do lazer.

Talvez essa seja a parte mais difícil de todo o processo de implantação de um projeto de desenvolvimento turístico, pois precisam conseguir deixar claro para todos (povo, setor público, empreendedores e turistas) que os cuidados com a preservação do meio ambiente é de máxima importância e que existe um retorno muito grande desse investimento.

Numa visita a um pequeno empreendedor da região, que possui um dos primeiros hotéis de Ecoturismo do Estado, pude constatar que o mesmo demonstra toda essa preocupação. O seu hotel possui poucas cabanas, cavalos para passeio, trilhas para explorar, cascata própria em suas terras, passeio de botes no rio. Ao ser perguntado se o retorno do investimento era o esperado, ele coloca que a satisfação de acomodar as pessoas da cidade, passando toda uma realidade local, com a lida campeira e a preservação do meio ambiente, era mais importante do que a hospedagem que ganhava. Referiu que ele tentava transmitir aos hóspedes como era a realidade de seus avós, dando a oportunidade aos mesmos de visualizar todo o contato do homem com a natureza. Este fato apenas exemplifica a conscientização de alguns empreendedores que vem trabalhando junto à população.

A Cidade de Torres também, a partir de seu maior atrativo, as famosas falácias, conseguiu um grande destaque no turismo ecológico. Trabalharam de forma a desenvolver a sua potencialidade, mas tendo todo o cuidado com o seu meio ambiente; preservando o mar, realizando tratamento de esgoto; criando um plano diretor para a cidade; trazendo o investimento de universidades para o município. Tendo os turistas apenas no verão, haja vista que o mar é extremamente gelado no inverno, os empreendedores trouxeram eventos durante a baixa temporada, conscientizando a população móvel e a residente da importância da preservação da cidade e dos cuidados que devem ter com a natureza.

Quanto às demais cidades será que não possuem potencial para desenvolver um turismo ecológico, de forma sustentável ou tem outras formas de desenvolvimento que não necessitam desenvolver este seu potencial turístico?

As várias regiões do Estado têm tomado algumas atitudes isoladas ou de uma forma ainda tímida ou principiante, mas se verifica que apenas poucas cidades têm secretarias municipais que cuidam exclusivamente do turismo, entre elas Canela e Gramado. Talvez isso seja mais um motivo para que esses municípios estejam na vanguarda do desenvolvimento turístico no Estado.

Outro fator importante, Gramado é a primeira cidade gaúcha a aparecer no ranking de cidades mais visitadas no turismo de lazer no Brasil, onde surge na 25º colocação.

Porto Alegre e região metropolitana têm se projetado nacionalmente na captação do turismo de negócios, onde todo o potencial tem se intensificado nesta busca, em face da privilegiada localização de Porto Alegre, no centro do Mercosul, sendo a sua capital. Com isso houve um significativo crescimento nesta área, com a criação de várias medidas governamentais, eventos internacionais e crescimento intenso da rede hoteleira. O Ecoturismo nesta região tem se realizado, mais por meio das cidades vizinhas de Porto Alegre, na exploração de sítios para eventos e com alguma infraestrutura, sendo ainda de forma iniciante o seu desenvolvimento.

A região das missões apresenta um quadro estável no seu desenvolvimento, onde a principal atração é as missões jesuíticas. No entanto, não apresentam nenhuma novidade na infraestrutura, a qual não tem tido alterações há vários anos, com exceção da modernização do museu que ocorreu recentemente. Saliente-se que as cidades que estão na imediação não aproveitam deste seu potencial.

O pampa gaúcho, após quase dois séculos sobrevivendo da pecuária, volta-se com entusiasmo para o ecoturismo na exploração das tradicionais fazendas de gado, que existe por toda a região da fronteira. Várias cidades juntamente com os proprietários das fazendas, estão trabalhando na conscientização para esta nova realidade e oportunidade do mercado.

A região de vinhedo está trabalhando arduamente nessa proposta, com um futuro desafiador. O trabalho desenvolvido por toda a região, já esta colhendo alguns frutos dessa nova iniciativa. A Região do Planalto Central no Estado, que possui formações paleontológicas, pouco exploradas, e restos de florestas petrificadas e com fósseis de animais, se limita, ainda, a um turismo local e interno e a um público universitário que vem estudar este processo que ocorreu nas florestas da região. E por último, há a região sul, com o potencial da Lagoa dos Patos, caracterizando-se como um ponto de passagem de turistas locais ou do Uruguai para as praias de água salgada, pernoitando no máximo uma noite nos hotéis, sendo que se tem verificado a dificuldade de manter este turista na região.

São poucas atitudes que os empreendedores, prefeituras, órgãos públicos e o povo em geral podem realizar para tornar viável o desenvolvimento do ecoturismo. A primeira é unir os esforços, fazer um plano de marketing compacto de seus objetivos e abrangente do pólo turístico, realizando os investimentos conjuntamente, para diminuir os custos, pois dificilmente uma atitude isolada conseguiria, mesmo tendo um enorme potencial, realizar o desenvolvimento de uma região, seja ela da iniciativa privada ou pública. A forma mais econômica e eficiente é trabalhar com a fidelização do cliente, seja pessoa física, agência de turismo ou operadora. Deve-se haver um empenho para captar este turista, atendendo a expectativa do empreendedor que investiu na idéia da necessidade de desenvolver o turismo, seguindo sempre as normas e os padrões de qualidade. A oportunidade certa de aplicar todo este trabalho será nas altas temporadas ou onde o público em potencial está aproveitando e fazendo seu turismo. Por isso, a importância de perceber estes nichos do mercado e verificar o que o turista está procurando e quais as alternativas de turismo que está sendo realizado e as suas tendências.

Também se deve aproveitar a oportunidade e verificar o que esta acontecendo sobre o ecoturismo no mundo inteiro, suas políticas de desenvolvimento, que podem servir de parâmetro. Ainda, podem ser realizadas parcerias com cidades onde já têm um trabalho mais avançado nesta modalidade, para servir como base de nossos princípios de atuação. A evolução é tamanha, que a cidade de Barcelona, por exemplo, já possui um seguro para os turistas que vão aproveitar a praia, indenizando quando ocorrer um período em que o sol não aparecer. Pode-se mencionar como exemplo de uma parceria exitosa, a que foi realizada entre a cidade de Barcelona e o Estado do Espírito Santo, do desenvolvimento turístico para este Estado.

Ante ao exposto, pode-se concluir que, para uma montagem de uma estrutura turística, o plano de desenvolvimento de um pólo turístico nunca tem um retorno imediato. É um trabalho a médio e longo prazo, pois envolve um somatório de esforços, desde a conscientização do povo, fortes investimentos da iniciativa privada, apoio e seriedade das prefeituras, preservação e identificação da cultura local, fidelização dos turistas e a capacidade do potencial do pólo turístico ao qual se pretende desenvolver.

O ecoturismo é uma possibilidade de desenvolvimento para muitos municípios, que deve ser executado de uma forma consciente e eficiente para tornar essas cidades sustentáveis do ponto de vista econômico, aplicando-se os investimentos em seu patrimônio natural e cultural para proporcionar o progresso da população.

Luiz Alonso de Oliveira Blanco[1]



[1] Professor e Coordenador do Curso Superior de Hotelaria na Faculdade de Tecnologia Senac-RS. Graduado em Administração pela PUCRS e em Hotelaria pela UCS, Mestre em Qualidade Ambiental pela Feevale. Contato: alonsoblanco@hotmail.com


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Luis Alonso Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Hotelaria Graduado em Administração pela PUCRS e em Hotelaria pela UCS, Mestre em Qualidade Ambiental pela Feevale

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