Turismo Inusitado
Diz o google, que dá-se o nome de Turismo ao conjunto de atividades realizadas por um individuo durante suas viagen e estadias em lugares diferentes do seu habitual.
E eu pensava que teria que ter quilômetros percorridos ou milhas pra começar meu novo texto, algumas conexões, alguns mapas,muitas fotos, algumas surpresas e roubadas, uns carimbos novos no passaporte, bagagem e algum excesso de carga, bobagem...
O Amilcar quando me convidou pra ter uma coluna por aqui, não estabeleceu pauta, numero de linhas, freqüência, queria gentilmente uma parceria e algumas palavras que valessem leitura, eu que entrei nessa de escrever sobre grandes viagens, como um Pero Vaz as avessas e sem sair do pais há um tempo e sem conhecer novos lugares, fui calando...
Mas hoje lembrei e quis compartilhar uma grande aventura: Voltar a minha cidade natal ...
Voltei a Itaqui, depois de 15 anos, e contrariando os comentários negativos prevendo uma cidade triste, dos que nunca mais voltaram, encontrei uma cidade bonita, limpa, com a praça bem cuidada, o teatro refeito, encontrei minha cidade feliz, e assim também fiquei!
Pode ser muito doloroso voltar pra terra onde fomos crianças, por que abandonando os olhares infantis, costumamos ser mais críticos, rigorosos e intransigentes com as coisas e as pessoas, os lugares que eram enormes se reduzem diante dos nossos olhos e o coração pode ficar apertadinho não cabendo mais no nosso passado, corri esse risco de ver meus cantos e me rever... Felizmente voltei mais velha, e meus olhos foram de um saudosismo feliz, sem mais o ranço adolescente e julgador, que um dia usei sobre o Itaqui, mas com uma alegria cúmplice com as pessoas, árvores e ruas, com lembranças sorridentes me abraçando novamente, em beijos roubados de um primeiro amor, meu primeiro “eu te amo” foi dito e ouvido no porto, assim como as noites com grilos e cadeiras nas calçadas, com brincadeiras sobe as luzes amarelas nas ruas quase sem carros, com noites cheias de estrelas, as lembranças, alegrias boas me acompanharam nos dias que revi Itaqui e a mim mesma.
Foi bom voltar, foi bom ver que a vida pode andar tranqüila e ter um ritmo menos alucinado do que tenho por aqui, nessa cidade que escolhi, e que a felicidade existe lá e aqui, existe onde se queira ser e estar feliz!
Gabriel Garcia Marques diz na introdução do seu livro “Viver para contar”, que aliás fala de seu retorno a terra natal, que: "'a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la."
Deparar-me com o que eu vivi e o que eu recordava de tudo, foi uma grata experiência. Mudaram-se as proporções como a casa da minha avó que aos meus olhos infantis era enorme, uma fortaleza e hoje me pareceu pequena, as distâncias também , as pessoas...mudei também eu e meu olhar, e entendi vendo a tudo por lá, que é bonita a vida seguindo e é bonito ter boas lembranças a preservar.
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Na sexta á noite, com traje recepção, a convite da Confraria do Tango, entrei no Clube do Comercio, Salão do Espelhos e ao som de tangos e boleros, viajei pro passado, aos bailes de antigamente e vi casais dançarem apaixonadamente, rodando pelo salão exibindo sorrisos satisfeitos e muita disposição, e alguns ali já passavam dos 80 anos.
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No sábado a viagem foi surpreendente, estive acompanhando a minha mãe nos jardins do Palácio Piratini, fotografei detalhes como uma criança podendo brincar e espiar a casa proibida do vizinho rico.
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Também quero contar que dias antes , viajei pra Paris, quando uma senhora de cabelos curtinhos e grisalhos (tão raros por aqui) com um figurino impecável , lenço no pescoço e um perfume maravilhoso, sentou próxima a mim na Patisserie. Alheia a minha curiosidade, pediu chá, uma massa folhada , confortavelmente abriu um livro e sorridente embarcou em sua viagem particular. Despertei-a com a minha pergunta inoportuna, de que perfume tão gostoso era aquele, ela me respondeu sorridente: Blue, da Channel.
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No domingo voltei a Roma, de trânsito confuso, mas com pessoas e arquitetura maravilhosas que valem cada novo passo e olhar, de ruelas que desvendam segredos. Retornei as escadarias da Piazza Spagna, ao Coliseu, a Fontana de Trevi, meu olhos de turista embevecida passeando por toda Roma, pelas mãos de Woody Allen.
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Sem um único carimbo novo no passaporte estive voando por aí, e adorei...
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