Os tesouros de Curtefranca
Este cantinho da Lombardia, situado entre o Lago d’Iseo e Brescia, tornou-se um dos pólos mais significativos para produção de espumantes na Itália. A atenção com os vinhedos, a rigorosa seleção das uvas durante a colheita manual, o cuidado com a vinificação e a maturação do vinho-base fornecem uma matéria-prima de alta qualidade para a espumantização. O longo repouso na cantina dá ao vinho preciosas bolinhas, finas e persistentes, perfumes elegantes de frutas brancas maduras, cítricas ou exóticas, de flores brancas como jasmim, camomila e baunilha, além de notas de avelã tostada, que se articulam de modo harmonioso com as fragrantes notas de levedura e crosta de pão. Os sabores são intensos e dotados de uma boa persistência, frescor agradável e ótima maciez, características que fazem dele, um espumante verdadeiramente refinado. Apresentando: Franciacorta!
O termo Franciacorta tem somente uma assonância com a França (Francia, em italiano) e na realidade provém da expressão “corte franca”, uma zona em que os monastérios e conventos do período medieval tinham isenção de impostos em favor de suas reestruturações. Franciacorta é sinônimo de espumante enquanto os vinhos tranqüilos desta região são chamados de Curtefranca. Este espumante é um método champenoise produzido com uvas Chardonnay, Pinot Nero e Pinot Bianco, nas tipologias Franciacorta, Franciacorta Rosé e Franciacorte Satèn. Destes, o que mais me agrada é o Satèn, um brut produzido somente com uvas brancas, Chardonnay e/ou Pinot Bianco, e que corresponde ao Crémant produzido em Champagne. O Satèn, chamado assim desde 1990 e somente em Franciacorta, recebeu este nome por ter características que lembram a seda, apresentando uma espuma macia e sedosa, cor acetinada e gosto aveludado.
Localizada em Borgonato di Corte Franca, a Berlucchi propõe uma ampla gama que destaca toda potencialidade e excelência deste terroir único. Na ocasião em que estive lá pude conhecer toda sua linha de produção, além de seus fantásticos espumantes. E confirmando o que escrevi no parágrafo anterior, a expressão máxima deste território foi para mim o Franciacorta Satèn Palazzo Lana 2004, um espumante que nasce da combinação das 11 melhores seleções de Chardonnay da vinícola. A sua vinificação dura em torno de 09 meses até se obter o assemblage definitivo. A adição limitada de liqueur de tirage faz com que a pressão produzida não supere as usuais seis atmosferas. O afinamento ocorre em contato com as leveduras por no mínimo 48 meses até a sua sboccatura. O espumante ainda segue em repouso por mais três meses antes de, finalmente, ser comercializado. O resultado é um excelente Satèn de espuma macia, perlage delicado, cor amarelo-palha e reflexos levemente dourados. Seu bouquet é rico com evidentes notas florais que se misturam com os perfumes de confeitaria, manteiga e mel. Na boca, um conjunto de sensações macias e aveludadas que lembram frutas maduras e brioche.
Franciacorta me traz ótimas lembranças. Foi onde aconteceu um dos momentos mais marcantes da minha vida. Lá que recebi da Associazione Italiana Sommelier o título de sommelier, juntamente com o tastevin de prata. Um fato inesquecível assim como a visita na histórica cantina Berlucchi. Episódios que ficarão na minha memória como os maiores tesouros de Curtefranca.
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