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Valtellina: terra de montanhas e bons vinhos

Postado por Mundo dos Vinhos em terça, janeiro 31, 2012

Há séculos a Valtellina é uma terra de uva e de vinho. Esta região montanhosa do norte da Itália localiza-se às margens do Rio Adda por cerca 40 quilômetros, encravada entre as pedras do período rhaetiano(1). Os vinhedos são tipicamente dispostos em terraços para a melhor maturação da uva e o seu cultivo representa ainda hoje um dos recursos mais significativos para o agronegócio local. A paixão e o esforço de gerações inteiras de famílias têm permitido o cultivo destas encostas íngremes de uma casta nobre como a Nebbiolo, localmente conhecida como Chiavennasca. No passado, grandes personagens como Leonardo da Vinci e o poeta italiano Carducci ficaram fascinados por essa terra e a sua capacidade de produzir bons e potentes vinhos.

A Valtellina é a única denominação que obtém duas DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) coincidentes, sendo uma para o seu vinhedo e outra pra o seu território: o Sforzato di Valtellina e o Valtellina Superiore com as subzonas Maroggia, Sassella, Grumello, Inferno e Valgella. Também posso citar as denominações Rosso di Valtellina DOC e IGT Terrazze Retiche di Sondrio. As vinícolas associadas ao Consorzio Tutela Vini Valtellina acolhem os visitantes levando-os em um passeio guiado pelas suas instalações que apresentam lado a lado o antigo e o moderno em termos de tecnologia. Uma verdadeira viagem no tempo.

Agora, falando dos vinhos, o Inferno Vatellina Superiore é um dos meus preferidos. Esta subzona que tem um nome tão singular e fascinante, Inferno, refere-se aos vinhedos situados nos pequenos terraços entre Poggiridenti e Tresivio, em fendas rochosas da encosta não muito fáceis de chegar e que atingem temperaturas particularmente elevadas no verão. É também a menor subzona da Valtellina Superiore com apenas 55 hectares cultivados. A sua normativa de produção indica uso de 90% uvas Nebbiolo e 10% restantes de uvas autorizadas. É um vinho adequado para um longo envelhecimento. A sua cor é rubi com tendência ao granado e com o afinamento desenvolve uma maior complexidade aromática e maciez. Na boca é seco, harmônico e levemente tânico. É considerado o mais austero entre os vinhos Valtellina Superiore.

Outro vinho que também aprecio muito é o Sforzato di Valtellina ou simplesmente Sfursat, como é chamado na região. O Sforzato foi o primeiro vinho passito seco italiano que obteve a DOCG. É um vinho obtido da seleção das melhores uvas Nebbiolo que imediatamente após a colheita são colocados sobre esteiras em local seco e bem ventilados chamados “fruttai”, uma espécie de genius loci(2) para qualidade do Sforzato. A secagem dura aproximadamente 110 dias e no final de janeiro, quando o ar da Valtellina terminou “o seu trabalho”, a uva perdeu 40% do seu peso, concentrou seu suco e adquiriu uma grande complexidade de aromas. Com 14% de álcool, o vinho segue ainda por mais 24 meses de maturação e afinamento em barris de madeira e na própria garrafa até estar pronto para degustação. Neste ponto, precisamos estar em plena forma para apreciar a personalidade deste vinho: desde a sua cor em tons granados até a grande intensidade de seus perfumes.

A Valtellina possui inúmeras belezas naturais e é também uma região muito rica em tradição. Àqueles que estiverem de passagem por lá poderão encontrar no sabor dos seus produtos típicos como os queijos Bitto e Casera, a Bresaola(3), o Pizzoccheri(4), as maças, o mel dos Alpes e nos ótimos vinhos locais, todo o calor e a simplicidade do povo local combinada com a qualidade que todos nós sempre procuramos.

(1) Rhaetiano: Idade do período Triássico da era Mosozóica que esta compreendida entre 203 milhões e 199 milhões de anos atrás, aproximadamente.

(2) Genius loci: Termo latino que se refere ao “espírito do lugar”. É o gênio do lugar habitado e freqüentado pelo homem.

(3) Bresaola: Salame tipo IGP (Indicazione Geografica Protetta), produzido com carne bovina, salgado e curado, consumido cru.

(4) Pizzoccheri: Massa tipo tagliatelle de cor acinzentada produzida com 2/3 de farinha de trigo sarraceno e 1/3 de farinha de trigo comum.


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